domingo, 9 de janeiro de 2011

A visita

Boa Madrugada gente!

Pois é... madrugada. Quase uma da manhã e eu acabo de escrever mais um texto para o Talas de Bambu e resolvi postar imediatamente, pois esse é o momento ideal para esse post!  Espero que gostem!




A Visita

Os ponteiros do relógio sobrepunham-se um ao outro, maior sobre menor, como se estivessem engatados em uma conexão tão perfeita que me davam a impressão de que aquela pausa momentânea onde os dois tornavam-se um, tinha um quê de sexual. A madrugada já dava o ar de sua graça desacelerada, transformando as ruas soturnas em um lugar inabitável para vivas almas.
Aqui dentro do meu minúsculo apartamento, resolvi, meio que a contra gosto, desligar o computador e lançar-me nos braços de Hipnos, esperando que não demorasse muito para que ele me transportasse para os braços de Morpheus.
Lacrei a porta do meu templo de sonhos na intenção de impedir a invasão de qualquer som ou réstias de luz e entreguei meu corpo seminu aos caprichos das molas ortopédicas e das penas de ganso. Baixei as cortinas dos telões de minhas retinas, encerrando as projeções daquele dia. Envolvi-me em seda branca e deixei minha respiração e meus pensamentos se tranquilizarem.
Foi então que ela me surpreendeu. Eu não estava sozinho como imaginava. A Dama misteriosa foi se aproximando devagar, taciturna, deslizando suas curvas perigosas sobre os lençóis, seduzindo-me, tragando minha alma e me deixando entregue aos seus caprichos.
Meu corpo começou a ficar quente. As gotículas de suor escorreram sob minha pele desnuda e o calor que de repente fez-se presente fez com que a fina seda que me cobria parecesse um pesado cobertor de pelos. Livrei-me imediatamente dos lençóis, o que me deixou mais vulnerável às investidas daquela sedutora.
Ela não perdeu tempo. Rapidamente enroscou-se em mim, rareando o ar, me deixando atônito. Os travesseiros também estavam quentes. Virei-os e revirei-os, tentando encontrar um pouco de frescor para minha nuca borbulhante. Não adiantou. Eu estava sob ela, totalmente inerte, entregue. Por um momento, tentei não sucumbir aos seus caprichos, mas o poder que emanava daquela presença reprimia meus sentidos.
A cama estava totalmente desarrumada. Os movimentos que eu fazia eram rápidos, intensos, quase que desesperados. Àquela altura do campeonato, meus cabelos já estavam desgrenhados, minhas pernas estavam retesadas, doídas. Todos os meus sentidos estavam intensamente vívidos – mesmo que o cansaço já se fizesse presente – alertas, eletrizados, como se fossem fios desencapados digladiando-se uns com os outros.
Não adiantava resistir aos apelos daquela intrusa. Todas as tentativas de tomar o controle da situação eram vãs. Ela era a dominatrix, eu o seu escravo.  Açoitava-me com seu chicote invisível, dando risadas cínicas quando eu, não resistindo mais, dava longos suspiros ou reclamava das dores que começava a sentir nas costas.
Quando pensei que não conseguiria mais escapar da teia traiçoeira daquela viúva negra, consegui surpreendê-la em um momento de distração e acendi a luz do abajur. Ela olhou-me com cara de surpresa por um pequeno instante, eu retribuí o olhar e finalmente pedi-lhe por clemência como se fosse um condenado implorando por liberdade:
- Deusa Insônia, deixa-me dormir.

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